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Subproduto da produção do óleo de canola apresenta potencial terapêutico para as doenças de Machado-Joseph e Parkinson

Escrito por Dr. Maria do Carmo Costa, editado por Dr. Hayley McLoughlin. Inicialmente publicado em 24 de abril de 2020. Traduzido para o português por Priscila P. Sena.

Em um trabalho de colaboração utilizando modelo animal, pesquisadores de Portugal e do Reino Unido descobrem um subproduto do óleo de canola promissor para o tratamento das doenças de Machado-Joseph (ou ataxia espinocerebelar do tipo 3 – SCA3) e Parkinson.

Compostos isolados ou extratos (contendo uma mistura de compostos) de determinadas plantas têm se mostrado promissores como potenciais drogas anti-envelhecimento, ou como drogas terapêuticas para doenças neurodegenerativas. Alguns desses compostos ou extratos vegetais podem aumentar a capacidade celular de combater o estresse oxidativo anormal, típico do envelhecimento e de doenças neurodegenerativas. A doença de Machado-Joseph (também conhecida como ataxia espinocerebelar do tipo 3) e a doença de Parkinson são duas doenças neurodegenerativas nas quais a incapacidade celular de combater o estresse oxidativo contribui para a perda neuronal. Nesse estudo, os grupos do Dr. Thoo Lin e Dr. Maciel fizeram uma parceria para testar o potencial terapêutico do bagaço de colza (“rapeseed pomace”, RSP), um extrato residual com propriedades antioxidantes obtido após a produção do óleo de canola. Os experimentos foram realizados em modelo nematódeo (Caenorhabditis elegans) das doenças de Machado-Joseph e Parkinson.


Plantação de canola com montanhas cobertas de neve ao fundo, cortesia de imagem da USDA NRCS Montana on Flickr.

A doença de Machado-Joseph é uma ataxia neurodegenerativa dominante, causada por uma expansão trinucleotídica CAG no gene ATXN3 que resulta em uma proteína mutante (ATXN3). Enquanto em indivíduos não afetados essa expansão trinucleotídica contém de 12 a 51 repetições CAG, em pacientes de Machado-Joseph essa expansão varia entre 55 e 88 repetições. Como cada CAG no gene ATXN3 codifica um aminoácido glutamina (Q), a proteína mutante contém um trecho de Qs contínuos, conhecido como poliglutamina (polyQ).

A doença de Parkinson, caracterizada pela perda de neurônios dopaminérgicos, pode ser causada tanto por mutações genéticas quanto por fatores ambientais. Mutações nos genes codificadores da proteína α-sinucleína e da enzima tirosina hidroxilase (uma enzima crucial para a produção de dopamina) estão entre as causas genéticas da doença de Parkinson.

Nesse estudo, Pohl, Teixeira-Castro e colaboradores utilizaram modelos nematódeos para a doença de Machado-Joseph, geneticamente modificados para a produção neuronal da proteína mutante humana ATXN3. A proteína mutante forma agregados proteicos nos neurônios dos nematódeos e causa problemas de motilidade, replicando aspectos da doença de Machado-Joseph em humanos.

Os pesquisadores também utilizaram nematódeos modificados geneticamente para expressar a proteína ATXN3 normalmente expressa em humanos não afetados pela doença de Machado-Joseph. Esses nematódeos apresentam movimentos normais e a proteína ATXN3 não forma agregados proteicos nos neurônios, o que reproduz a condição normal humana.

Modelos nematódeos que apresentam perda de neurônios dopaminérgicos também foram utilizados, representando a doença de Parkinson causada tanto por fatores genéticos quanto por fatores ambientais. Eles utilizaram nematódeos geneticamente modificados para a produção da proteína α-sinucleína humana, ou para a superexpressão da enzima tirosina hidroxilase, ou ainda nematódeos tratados com um composto químico que leva à morte de neurônios dopaminérgicos.

Os autores mostraram nesse estudo que a administração de RSP, um subproduto da produção do óleo de canola, aos modelos nematódeos das doenças de Machado-Joseph e Parkinson, reduz determinados sinais dessas doenças. Resumidamente, os modelos nematódeos da doença de Machado-Joseph tratados com RSP apresentaram uma recuperação dos movimentos a um nível comparável aos animais não afetados, e os modelos nematódeos da doença de Parkinson tratados com RSP mostraram uma preservação dos neurônios dopaminérgicos.

Em seguida, os pesquisadores mostraram que o tratamento com RSP recuperou os nematódeos de certos sinais das doenças de Machado-Joseph e Parkinson através da ativação de vias celulares que protegem contra o estresse oxidativo. Especificamente, os autores encontraram evidências de uma via protetora em particular, conhecida como resposta celular antioxidante dependente de glutationa S-transferase 4 (GST-4), que foi ativada em modelos nematódeos das doenças de Machado-Joseph e Parkinson tratados com RSP.

Ainda que sejam necessários mais estudos, particularmente em animais vertebrados, para que se compreenda completamente como o extrato de RSP recupera o organismo de sinais das doenças de Machado-Joseph e Parkinson, a enzima GST-4 parece ser um bom alvo terapêutico para essas doenças. Esse estudo, acima de tudo, demonstra que o aumento de defesas particulares do organismo contra o estresse oxidativo é uma rota potencial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para as doenças de Machado-Joseph e Parkinson.

Palavras-chave

Repetições CAG: um trecho de DNA composto pela sequência CAG repetida muitas vezes. Todos nós temos repetições CAG em alguns genes, mas se essas repetições excederem um limite de tamanho elas podem causar doenças, como é o caso da doença de Machado-Joseph.

Caenorhabditis elegans: um animal bem pequeno, parecido com uma minhoca, denominado nematódeo. C. elegans são organismos muito simples, mas podem ser utilizados para aprendermos mais sobre organismos mais complexos, como o organismo humano. Para aprender mais, visite o nosso Snapshot em C. elegans.

Neurônios dopaminérgicos: um tipo de neurônio que produz dopamina, encontrado no sistema nervoso. Apesar de representarem menos de 5% de todos os neurônios do corpo, eles exercem um papel importante no movimento, humor e estresse.

Estresse oxidativo: um tipo de perturbação do funcionamento normal de uma célula, causado por um desbalanço dos níveis de espécies reativas de oxigênio. Essas espécies de oxigênio são produzidas como um subproduto normal do metabolismo celular e geralmente são eliminadas pela célula sem grandes transtornos. Quando as células são incapazes de eliminar de forma suficiente essas espécies reativas de oxigênio, essas moléculas começam a acumular e causar danos a componentes que formam estruturas críticas da célula, como lipídeos, proteínas e o DNA. Conforme envelhecemos, as células naturalmente se tornam menos eficientes em eliminar espécies reativas de oxigênio, e experimentamos um nível mais alto de estresse oxidativo.

Declaração de conflito de interesse

Os autores e o editor declaram não haver conflito de interesse.

Dois dos autores do artigo original (P. Maciel e F. Pohl) contribuem para o SCAsource. Nenhum desses autores teve qualquer contribuição à escrita ou edição desse resumo.

Citação do artigo revisado

Pohl F, Teixeira-Castro A, Costa M, Lindsay V, Fiúza-Fernandes J, Goua M, Bermano G, Russell W, Maciel P, Kong Thoo Lin P. GST-4-dependent suppression of neurodegeneration in C. elegans models of Parkinson’s and Machado-Joseph disease by rapeseed pomace extract supplementation. Frontiers in neuroscience. 2019;13:1091. doi: 10.3389/fnins.2019.01091

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